Nossa história

Pertenço à uma geração que aprendia a cozinhar em forma de guisado. Construíamos nosso próprio fogãozinho e sobre ele criávamos receitas que tínhamos o maior gosto em comer e oferecer. Eram, aos nossos olhos e coração de criança, delícias incomparáveis àquelas postas sobre o fogão e a mesa dos adultos.

Em toda casa havia um fogãozinho para os guisados. Ele era feito com cerca de vinte tijolos sobrepostos por uma chapinha de ferro de três furos. Os paus de lenha eram cortados no tamanho adequado ao do fogão e usávamos palha de milho seca entremeada à lenha para facilitar o inicio do fogo. 0 guisado era cozido em caburés, panelinhas de pedra sabão ou de ferro. Havia alguma vigilância e sugestão no cardápio, mas predominava a criatividade. Cozinhávamos arroz, feijão-bago-bago, farofa de ovos, banana frita; fazíamos limonada, melado para comer com mandioca, cará ou mangarito cozido.

Assim, o aprendizado ligava-se ao gosto. Tínhamos a possibilidade de lamber, sentir o cheiro… Não estávamos, então, criando arte culinária? Não seria essa uma das formas de se desenhar a cozinha típica? Da observação dos recursos locais, do clima, dos costumes e crenças, da mistura dos povos fazendo guisados e… aprendendo a cozinhar!

Amo este tipo de cozinha. Amo a típica cozinha de minha terra. E é dela, apenas dela, que sei. E é dela que posso falar. A cozinha a que me refiro é a que foi gerada ao tempo do ciclo do ouro e do diamante; que nasceu, cresceu e permaneceu guardada pelas montanhas chamadas pelos seus primeiros habitantes de Hivituruhy, ou “morro dos ventos frigidos”.